Bacalhau norueguês mantém protagonismo nas mesas brasileiras
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Bacalhau norueguês mantém protagonismo nas mesas brasileiras
Com a chegada da Páscoa, um dos protagonistas da culinária brasileira volta a ganhar destaque: o bacalhau. Tradicionalmente presente nas refeições desta época, o peixe salgado e seco se tornou símbolo de celebração e sabor – e boa parte do que chega ao Brasil tem origem em águas distantes da Noruega.
Em 2025, o país escandinavo responde por cerca de 27% da produção global de bacalhau do Atlântico, com 190 mil toneladas das 700 mil produzidas no mundo. A cidade de Ålesund, considerada a capital norueguesa do bacalhau, é o maior centro exportador do produto, abrigando o maior número de fábricas do país.
A relação da Noruega com o bacalhau remonta à era viking, mas foi no final do século 17 que teve início a produção do “clipfish” — o bacalhau salgado e seco como conhecemos. Curiosamente, a técnica foi introduzida por estrangeiros: holandeses tentaram sem sucesso em Kristiansund, e os escoceses, no início do século 18, conseguiram impulsionar o negócio. Com o tempo, Ålesund assumiu o protagonismo devido à sua frota pesqueira e à proximidade das zonas de pesca.
“Acredita-se que a mudança ocorreu pela frota de navios na cidade e a localização privilegiada para captura dos peixes”, explica Ane Havnegjerde, guia do Museu da Pesca de Ålesund.
Antigamente, o processo era todo manual: após a pesca, os peixes eram limpos, salgados e deixados para secar sobre rochas por até um mês. O nome "clipfish" deriva de “klippfisk” — junção de “klippe” (rocha) e “fisk” (peixe), em norueguês. O trabalho exigia atenção ao clima: em caso de sol intenso ou chuva, o peixe precisava ser recolhido rapidamente.
Hoje, a produção é bem mais tecnológica. A pesca é feita nos mares da Noruega, do Norte e de Barents, com o auxílio de sonares que localizam cardumes e identificam o tamanho ideal dos peixes. Embarcações modernas, como o navio Havbryk, da empresa Strand Rederi, funcionam como fábricas flutuantes — com redes de até 300 metros, áreas de limpeza e congelamento, e frigoríficos a bordo.
Nada se perde: as cabeças e entranhas viram óleo de fígado e farinha de peixe. A atividade, no entanto, é controlada por cotas de pesca rigorosas, para garantir a sustentabilidade e evitar a sobrepesca — uma preocupação global.
Enquanto isso, no Brasil, o bacalhau segue como item de luxo na mesa de muitas famílias durante a Semana Santa. E embora ele carregue um sabor de tradição, carrega também séculos de história, trabalho e inovação — começando muito antes de chegar ao prato.